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Viva Zona Oeste realiza primeira ciclo de palestras sobre museologia social com Mario Chagas

    Na quarta-feira, dia 13 de agosto, o Ponto de Cultura e Memória Viva Zona Oeste realizou a primeira palestra do ciclo de museologia social, de 8 palestras, na sede da organização, em Curicica, que serão realizadas ao longo dos meses de agosto e setembro, gratuitamente às segundas de 19h às 21h. A primeira palestra contou com a participação do professor Mario Chagas, museólogo e cientista social, que iniciou dando um panorama histórico sobre a museologia social, começou dizendo de forma bem humorada e leve: “Nossa conversa é de velas soltas” e logo adiantou “A Museologia social tem potência política, social e poética e nenhuma elimina a outra”.

    Ele começa sua narrativa com os museus convencionais começaram a entrar em crise desde 1960 e um marco zero para o surgimento do conceito da museologia social foi uma mesa redonda, de quase um mês de trabalho, realizada em Santiago do Chile, em 1972, onde reuniu pesquisadores, filósofos e outros profissionais do pensamento humano e o desafio era pensar os museus para América Latina. “Nesse encontro chegou a umas das conclusões que os museus poderiam se tornar ferramentas para evidenciar questões estruturais da sociedade para enfrentá-los. Por exemplo, que o país enfrenta a fome. De que forma o Museu poderia ajudar a enfrentar a fome?”, evidencia Chagas. No entanto, o próprio Chile enfrentou um golpe em 1973, que silenciou o processo da Mesa Redonda.

    E como começa a história da museologia social no Brasil?

    No Brasil, segundo o professor o termo ganha força a partir de 1993 e destacam-se ainda que 3 grandes experiências que foram muito importantes para a popularização do termo. A 1º foi o Museu da imagem do inconsciente, liderado pela Nise da Silveira, em 1952 “onde de um castigo, ela cria inovação e começava a produzir acervo,  inventando acervo”, conta Chagas. Em seguida, a 2º iniciativa foi o Museu do Índio, em 1953 em que Darci Ribeiro, seu fundador dizia “não queremos tratar indígenas como fosseis humanos e sim despertar o desejo de beleza dos indígenas”. Por fim em 1978, surgiu o Museu de Arte Negra, liderado por Abdias do Nascimento, que ficava dentro do Museu da Imagem e do som, onde reunia outras lideranças negras para pensar e produzir acervo a partir das reflexões e pensamentos das culturas negras.   

    O termo ganha força e começa a ser pensado como política pública no Brasil, a partir de 2005, na gestão do ex-ministro da cultura Gilberto Gil, onde havia-se uma ideia de construir prédios para abrigar iniciativas culturais e ele pensou que o país deveria caminhar justamente no sentido ao contrário, que ao invés de criar Pontos Culturais com construção de prédios e sim eles passassem a ser reconhecidos ao longo do próprio processo do desenvolvimento. E dai, surge a política pública dos  Pontos de Cultura, que talvez seja a única política pública de cultura que chega a todos os cantos do país e fora dele levando nossa cultura para todo o mundo. Na época houve uma premiação de Pontos de Cultura em todo o Brasil e algumas iniciativas foram Museus, sendo: Museu da Maré e Museu do Indigena, em Matogrosso do Sul e não demorou muito para se criar a ideia dos Pontos de Memória.

    Hoje, no Brasil, são mais de 500 pontos de Memória recém reconhecidos como Ponto de Memória, inclusive o Viva Zona Oeste é um desses pontos e muitos deles, são museus sociais, que possuem não só na sua produção e consumo, outras ferramentas diferentes dos museus convencionais e segundo o professor existem tensões, mas o caminho aponta que os museus convencionais precisam aprender a conviver com os museus sociais, porque eles chegaram para ficar.

    De forma muito carismática, o professor explica que para se produzir museologia social não precisa de muito. Precisa de um grupo de pessoas que forme um comitê, evitar regras demasiadas e possibilitar que as ferramentas do Museu possam permitir que ele se torne vivo e os problemas da comunidade possam se tornar acervo do Museu. “O futuro está em disputa e que para se ter um futuro precisa ter memória”, explica Chagas e ainda cita Ailton Krenak: “O futuro é ancentral”

    Nossa jornada continua…

    Na segunda, dia 18 de setembro, com a participação da Maria da Penha do Museu das Remoções, moradora da Vila Autódromo desde 1994, viveu na pele as dores e lutas das remoções forçadas durante o período Olímpico no Rio de Janeiro. A própria Maria da Penha presente no primeiro encontro convida a todos o público, dizendo: “A museologia social mudou a minha vida”. Até o nosso próximo encontro!

    Venha continuar nossa construção juntos, ao final do projeto, o Ponto de Memória Viva Zona Oeste vai estrear sua primeira exposição comemorativa de 18 anos da organização, durante os dias 12, 13 e 14 de setembro.


    Por Vinicius Longo